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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

UM ENCONTRO MEMORÁVEL: O DIÁLOGO DE FRANCISCO DE ASSIS COM O SULTÃO

Sultão: Estou um pouco surpreso que você tenha passado pela frente de batalha para encontrar-se comigo, santo homem. Francisco: Eu também estou surpreso em vê-lo, senhor sultão, - eu achava que iria sofrer o destino dos mártires.
Sultão: Eu lhe asseguro que isso não estava fora de questão! Francisco: E o Martírio tem custo elevado!
Sultão: Infelizmente, nós dois temos uma longa tradição de mártires. Porém, eu aprendi que o martírio nunca é uma virtude em si mesmo.
Francisco: É verdade. Meus irmãos têm tentado convencer você e seu povo há mais de cinco anos a desistir de sua resistência e se entregar à fé em Jesus Cristo. Em Marrocos, três anos atrás, alguns pagaram o preço do martírio.
Sultão: Pelo que ouvi, foram muito insistentes em querer converter os marroquinos. Eles instigaram o povo que prontamente facilitou o martírio que buscavam.
Francisco: Certo - é esse o ponto. Mártires raramente tem a possibilidade de ter uma longa e sincera conversa com os seus adversários. Se eles dialogassem uns com os outros e aprendessem a respeitar um ao outro, talvez o martírio se transformasse em coisa do passado. Sultão: Então você veio para dialogar?
Francisco: Eu não vejo outra maneira de chegar a um entendimento, não é verdade?
Sultão: Mas, além de tentar converter um ao outro à verdadeira fé, o que temos mais para dialogar?
Francisco: No meu mundo, a tua fama de sabedoria é reconhecida. Estudastes entre nós, és amigo do nosso imperador, tens uma sede profunda pelo conhecimento e pela verdade. Estou seguro que posso aprender muita coisa.
Sultão: Então você veio para aprender e não para ensinar?
Francisco: Existe por acaso um professor melhor do que aquele que sabe como aprender e não só como ensinar?
Sultão: Para um homem tão pequeno, você tem igualmente alguma experiência de sabedoria! Francisco: Eu não estou tão seguro disto. Quando estava chegando aqui, eu trazia mil perguntas em minha cabeça: por que seus soldados foram tão gentis comigo; porque você me deixou passar por cada ponto de controle; porque seus homens faziam pausas para oração durante nosso caminhar para dentro do acampamento; porque estão sempre com essas contas entre os dedos; porque se curvam a mim com reverência; porque sua fé parece tão genuína? Sultão: Sim, sim, eu entendo: você tem um monte de questões a responder.
Francisco: Sim, é bem isso o que estou fazendo. No meu entendimento, uma pessoa sem questões a responder é uma pessoa com os olhos fechados.
Sultão: Eu sempre pensei que, pelo contrário, vocês cristãos tinham todas as respostas, embora, é claro, nós dois sabemos como é difícil lidar com os fanáticos!
Francisco: Eu ouso dizer que sua resposta mostra sinais de humildade - uma virtude que eu aprecio muito.
Sultão: Ambos estamos lutando para defender nossas terras sagradas da profanação. O problema é que vocês acreditam que as estamos profanando neste exato momento, e ficamos indignados com o pensamento de que vocês podem conquistá-las e profaná-las ainda mais! A batalha continua! Teoricamente, dispomos de recursos suficientes, de dinheiro e ódio, para continuar esta batalha, matando um após o outro até que não tenhamos mais ninguém, somente você e eu aqui de pé. Nesse ponto, quem ganharia?
Francisco: Que proveito há em ganhar?
Sultão: Se eu ganhar, então vou ter certeza de que Deus será louvado e que todas as pessoas vão adorar somente a Ele.
Francisco: Obviamente, então, você não quer a paz – somente a vitória.
Sultão: E qual é a diferença? Se conseguirmos por fim a esta fratricídio medonho, se pararmos esse massacre sem sentido, vamos, então, finalmente ter paz.
Francisco: Mas senhor sultão, você não pode, em seu perfeito juízo, acreditar que a paz é tão simples como a conquista da vitória - como se houvesse um momento em que não existiria mais conflitos? Sua "vitória" só iria trazer mais ódio e a vingança continuaria - não a paz. Você sabe que nem a vitória e nem a paz podem acontecer quando somente um lado “supostamente” "ganha".
Sultão: Eu estou diante de um inimigo maior do que eu imaginava!
Francisco: Estás somente diante de um irmão.
Sultão: Se somente pudéssemos agir a partir do conhecimento de pertencermos ao mesmo Criador! Se somente pudéssemos ver um ao outro através dos olhos daquele que é o único Grande e Santo.
Francisco: Agora tua fala começa a fazer sentido. Finalmente paraste de falar sobre vencedores e decidistes falar sobre a realidade.
Sultão: Realidade? O sangue derramado que eu vejo todos os dias é real. Ele vem dos filhos, dos maridos e dos tios de pessoas reais. Mesmo que antes da morte os seus pensamentos tenham sido de raiva ou de ódio ou de justiça, eu posso assegurar-te que os pensamentos finais não foram nenhum desses. Com a vida se esvaindo, certamente elas devem ter pensado: "A que custo?" Realidade é uma palavra que é proibida no campo de batalha. Se pensarmos na realidade, não estaríamos massacrando uns aos outros nessas trincheiras do inferno. Estaríamos todos em nossas casas, com aqueles que amamos, na segurança que tanto prezamos. Francisco: Segurança que é somente precária e enganosa, com o perdão da palavra, Sultão. Segurança para quê? De quê? Por quanto tempo? Se não estamos em paz com nosso Deus e não conhecemos a sabedoria do amor ao próximo - todos os nossos próximos - nunca teremos a segurança que vem somente do amor a ambos - Deus e o próximo. Estranhamente, eu descobri que a segurança só vem quando eu não estou “seguro” - quando eu vivo e sirvo aos outros através daquilo que o outro precisa e necessita em mim.
Sultão: Há algo muito profundo neste teu altruísmo! Quando será que a nossa consciência crescerá suficientemente de tal modo que agiremos com o fim de evitar a miséria humana ao invés de vingá-la?
Francisco: Eu vejo, pelo menos, que você e eu temos algo em comum: manter Deus fora dessa guerra medonha, feita em nome do Todo Poderoso! Pelo menos agora nós estamos falando sobre a paz real.
Sultão: e a vitória real.
Francisco: Alguém pode ganhar se nosso Deus sair perdendo?
Sultão: E pode Deus reivindicar vitória, quando seus filhos e filhas são assassinados em agonia? Francisco: Veja! Então você tem perguntas também! Se apenas o nosso mundo tivesse a coragem de viver as suas questões. Eu sei que você reconhece o meu Senhor e Mestre como um grande profeta, e eu sei que você pode apreciar suas santas Palavras quando Ele diz que – somente quando morremos para nós mesmos podemos viver para Deus e para o próximo, somente quando a semente cai na terra e morre é que ela cresce e produz frutos, caso contrário, é apenas um grão de trigo – fadado a permanecer no chão sem produzir nada. Sultão: É quando o grão morre que ele realmente nasce - para uma vida acima do solo. Francisco: Sim. O amor não morreu na cruz - ele simplesmente optou por não revidar a violência - e deu à luz um amor que nunca morre.
Sultão: Um amor verdadeiro e eterno - o amor do Criador.
Francisco: Falando sobre o Criador, conforme o ensinamento, “PAZ “ não é um dos nomes de Deus?
Sultão: Realmente! E de fato nosso sincero diálogo está me ajudando a acreditar que a paz é possível. Por isso, louvemos a Deus!
Francisco: Sultão, eu sou um pobre coitado. Não tenho nada para lhe oferecer, excepto a minha sincera honestidade.
Sultão: Então, eu lhe agradeço com toda a humildade. Se eu não tivesse permitido que você viesse hoje ao meu encontro, eu nunca teria compreendido quão valoroso pode ser um cristão.
Francisco: Quem pode imaginar o que podemos descobrir quando nos abrimos sinceramente ao diálogo?
Sultão: E o que significa isso senão um pôr-se a caminho na estrada dos mistérios de Deus - sempre mais do que nós pensamos ser possível e sempre menos do que presumimos. Francisco: Sim! Nosso Bom Deus é misterioso e majestoso! O louvor vem tão facilmente nos lábios daqueles que reconhecem a complexidade e ao mesmo tempo a simplicidade do nosso Deus.
Sultão: Realmente! Vamos louvar juntos o nosso bom e misericordioso Deus:

Juntos, Francisco e o sultão rezaram:


Vós sois o único Deus que faz maravilhas.

Vós sois o amor, a caridade; a sabedoria, a humildade, a paciência, a beleza, a mansidão, a segurança e o repouso.
Vós sois o benevolente, o Justo, o suave.
Sois o infinitamente bom, que a tudo perdoa. Sois a Providência, a Generosidade, o Amor.
Todo o louvor é vosso, ò Misericordioso e Compassivo Deus.
Vós sois nossa alegria; nossa esperança.
Sois a justiça, a moderação; nossa suficiência.
Vós sois o protetor; nosso guardião e defensor.

Sois a Verdade, o forte, o doador da vida, o restaurador.

Vós sois O Magnífico, O Eterno, O Todo-Poderoso, O Santo.

Todo o louvor é vosso, ò Misericordioso e Compassivo Deus.
Sois a Luz, sois o Guia, tudo vês.
Sois a força, a fé, a caridade e toda a doçura; sois nossa vida eterna.

Todo o louvor é vosso, ò Misericordioso e Compassivo Deus.

Vós sois o bom, todo o bem, ò Altíssimo; Deus grande e maravilhoso,
Vós sois O Magnífico, O Eterno, O Todo-Poderoso, O Santo, Amém.



(Texto preparado por Kathy Warren, OSF e João Petrekovic, OFM Cap)
Veja mais material sobre o Espírito de Assis em: http://spiritodiassisi.wordpress.com/portugues/

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