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sábado, 24 de dezembro de 2011

O MUNDO TORNOU-SE UM PRESÉPIO

A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, mudou o curso da história, o destino do homem e do mundo. O tempo foi fecundado pelo eterno e os atos humanos ganharam uma significação decisiva: nos fatos se constrói a salvação ou a perdição da vida. Crer num Deus que assumiu a condição humana é crer que toda pessoa tem uma dignidade e um valor fundamental, pelo simples fato de viver, porque a vida é sagrada.

Depois de Cristo, tudo tem a ver com Deus: as criaturas, a natureza, as diferentes culturas, as raças, e todas as coisas mais comuns que constituem a vida humana. “Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada se fez de tudo o que foi feito” (Jo 1,3). Hoje, a encarnação tem um caminho de volta: por meio de cada pessoa e do mundo em que vivemos, podemos descobrir a presença do Deus que assumiu nossas feições e tornou-se um de nós. “Entre nós armou sua tenda e nós vimos sua glória” (Jo 1,14).


Quando São Francisco de Assis, em sua intuição original recriou no presépio de Greccio, a expressão poética do natal, desejava experimentar e reviver na própria carne, o mistério e o encantamento, o amor e a dor, a contradição da glória divina revelada na pobreza do Filho de Deus. Desde então, compor um presépio com figuras e materiais comuns e ordinários, tornou-se um ato de fé, vislumbrando a presença do Deus encarnado em tudo aquilo que constitui a vida. Para contemplar o presépio e nele descobrir a revelação divina no cotidiano humano, há uma condição: é preciso mudar o coração e o olhar, porque o mundo tornou-se presépio.


É este o sentido de compor e imaginar a cena do nascimento de Jesus Cristo nas mais diferentes situações e culturas. É Ele o índio, é Ele o negro, é Ele o pobre, o homem comum na cidade, na favela, no campo… Porque todo ser humano tornou-se sacramento do Filho, e todo lugar e cultura tornaram-se sacramento da manjedoura de Belém. Universal não é o presépio, é sim o mistério da vida que só tem uma morada: o coração humano.


Natal e presépio revelam uma contradição: ao assumir na carne as limitações da vida humana, Deus eliminou toda distância e superou toda separação. Porque é livre, cada pessoa pode não viver nesta mesma dinâmica divina do amor e, de algum modo, vai experimentar o paradoxo de uma vida fechada em si mesma. Natal é linguagem divina. Presépio é pedagogia humana para que, na abertura ao mundo, se possa descobrir o que é essencial. Então seremos capazes de sentir, mesmo na precariedade da vida que, “Deus armou sua tenda entre nós, e vimos sua glória, e da sua plenitude TODOS nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1,14.16).

Frei Regis Daher, ofm
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/n/?p=9820

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

EXPECTATIVAS

Todos os dias, através dos meios de comunicação, ficamos sabendo que são muitas as expectativas do comércio e da indústria em relação ao aumento das vendas de Natal e final de ano. O comércio faz novas contratações de funcionários, na maioria temporária, e as indústrias aumentam o ritmo da produção para atender ao crescimento dos pedidos de mercadorias. Não podemos negar a importância desta realidade que faz crescer a economia de nosso país e também melhorar a situação da classe trabalhadora, apesar da realidade de desigualdade gritante em que vivemos!
Neste panorama agitado de final de ano, grandes questões vão sendo decididas ou empurradas para depois e que escapam à reflexão e ao envolvimento da maioria do povo brasileiro como, por exemplo, a votação do projeto de reforma do Código Florestal brasileiro, a demarcação e homologação das terras ancestrais dos indígenas, como asseguram nossa Carta Magna, o combate à corrupção, as grandes obras para a Copa e suas contradições, e tantos outros assuntos e desafios que não podem passar despercebidos, pois deles dependem nossa condição de povo livre e corresponsável pelo bem não só de nosso país, mas de nossa casa comum, o planeta Terra.

Para nós cristãos e parti cularmente para nós católicos, cujo calendário já assinala que estamos num novo ano litúrgico e a caminho da celebração do Natal do Senhor, é grande o clima de expectativa, na perspectiva de nossa fé na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Quais são as nossas expectativas para o Natal que se aproxima e mesmo para o início de mais um ano civil? Estamos no mundo e não podemos fugir da realidade! Mas uma coisa é certa: a ótica com a qual percebemos a realidade e como nela devemos agir é a nossa fé em Jesus Cristo, que se fez igual a nós em tudo, menos no pecado. Nossas expectativas remontam às do povo da Primeira Aliança, ao Israel primitivo, que acreditava na intervenção de Deus em sua história, marcada pelo pecado e a injustiça, e a vinda de um novo tempo de paz, justiça e harmonia entre os povos, com a chegada do Messias, trazendo o Reino de Deus. Para nós a primeira vinda de Cristo, pelo mistério da encarnação já nos trouxe a realização destas promessas feitas a nossos pais da fé, embora ainda não acontecidas plenamente por causa da dureza de nossos corações e falta de empenho em viver a mensagem do Evangelho na realidade concreta de nossas vidas.
Nós cristãos vivemos um advento permanente, na expectativa fundamental de nossa fé. Vivemos no já e ainda não do acontecimento do Reino de Deus em nossa história humana. Esta realidade da fé cristã, longe de nos alienar das realidades da terra, nos compromete com a preparação da segunda vinda de Cristo, trabalhando intensamente para construir na história humana, um novo relacionamento entre nós e com toda a criação, pois somos todos filhos de Deus e tudo o que existe procede de Seu poder amoroso.

Por isso, em nossa oração, marcada pela verdadeira expectativa da vinda do Senhor, pedimos para que nenhuma atividade humana nos impeça de correr ao encontro do Cristo que vem, e ao mesmo tempo pedimos para que o Pai nos ensine a julgar com sabedoria os valores terrenos e colocar nossas esperanças nos bens eternos.

Nossa expectativa cristã é orientada por esta perspectiva de fé, única para nós, capaz de dar sentido à vida humana e de estabelecer verdadeiras expectativas para toda humanidade.

Frei Marconi Lins, OFM
Ministro Provincial
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