Estamos no início de mais um ano e, como sempre, fazemos planos e temos esperança de que muita coisa boa pode acontecer! É verdade que temos consciência das surpresas que nos podem advir durante os próximos 365 dias que temos pela frente!
O tempo que somente nós, neste planeta Terra, temos a graça de viver, é uma maneira da humanidade organizar e construir a grande aventura da existência humana que chamamos de história.
Conforme nossa compreensão do tempo, levando em conta a força do cristianismo, estamos no ano de 2011 depois do nascimento de Cristo. Como sabemos, outros povos e culturas tem outro modo de conceber e contar o tempo, com outro ponto de referencia que não coincide com o nosso calendário cristão.
Mas numa coisa todos nós coincidimos: o tempo é sagrado, é uma oportunidade e uma chance de vivermos nossa vida e organizarmos nosso dia a dia, de maneira que construamos através da ação humana a nossa história que tenha significado para nós e para os que virão depois de nós!
Gostaria de ilustrar a reflexão que estamos fazendo, referindo-me a São Francisco e a maneira como ele “gastava” seu tempo, como costumamos falar. Segundo Frei Tomás de Celano, primeiro a escrever a vida de São Francisco, “ele costumava dividir o tempo que tinha recebido para merecer a graça de Deus e, conforme a oportunidade, consagrar uma parte ao auxílio do próximo e outra à contemplação no retiro” (1C 91).
Com muita sabedoria, São Francisco compreendia o tempo como um dom, um presente recebido de Deus para “merecer a graça”, isto é, os favores divinos, a fidelidade e a lealdade de Deus que nos quer salvar e dar vida abundante. Neste sentido, São Francisco compreende muito bem que o tempo é graça de Deus e oportunidade amorosa que Ele nos dá e que não podemos desperdiçar nem jogar fora. Temos que, responsavelmente, merecer, isto é, acolher amorosamente e responsavelmente o que nos é oferecido gratuitamente pelo próprio Deus. Então, o tempo é dom de Deus, mas deve ser restituído a Deus, de acordo com o nosso projeto de vida, conforme o empregamos. E São Francisco optou dividir o tempo em duas partes, consagrando uma parte ao auxílio do próximo, isto é, ao serviço das pessoas que necessitavam dele, e outra para à contemplação no retiro, ou seja, para ouvir a Palavra de Deus, para louvá-Lo e agradecer por tudo o que Dele recebia.
Aproveito este modo sábio de viver e dividir o tempo que São Francisco viveu em sua vida para propor a todos nós que neste ano novo, que há pouco iniciamos, saibamos viver para nosso próximo e para Deus. Desta forma não nos faltará tempo e não precisaremos fazer tantos planos de gerenciamento do tempo e outras coisas mirabolantes ensinadas em cursos especiais e que muitas vezes, não dão os efeitos esperados.
Vivamos este ano dentro do modo franciscano de conceber o tempo e não nos frustraremos, dizendo vou dar um tempo para mim, e admitindo que, muitas vezes, foi uma perda de tempo, um desperdício do que é valioso e não volta mais!
Quando o tempo é concebido e vivido com dom de Deus e oportunidade para fazer o bem e louvar ao Senhor, o tempo flui normalmente, sem o desgaste estressante do tempo vivido pela maior parte das pessoas, talvez, nós mesmos!
Vamos então, entrar na lógica do pobre de Assis, do homem que marcou a história humana só porque soube viver para o próximo e para Deus e por isso, o grande poeta italiano Dante Alighieri, referindo-se ao nascimento de São Francisco afirmou: “nasceu para o mundo um sol” (Divina Comédia, Paraíso, Canto XI). De fato, Francisco viveu o tempo que Deus lhe concedeu e construiu sua história na Luz que é o próprio Jesus, “luz do mundo” (Jo 8,12).
Frei Marconi Lins, OFM