Observando o sentido desta palavra de Jesus, São Francisco assim comentou: "O servo de Deus não pode saber quanta paciência e humildade tem em si mesmo, enquanto está satisfeito consigo. Quando, porém, chegar o tempo em que os que deveriam satisfazê-lo, fazem-lhe o contrário, quanta paciência e humildade aí tiverem, tanta tem e nada mais (in Fontes Franciscanas: Admoestações 13, p. 94). Assim, ser gente de paz, de paciência, humildade e solidariedade requer firmeza e perseverança nas circunstâncias de provação.
As bem-aventuranças franciscanas nos fazem descobrir a importância da paciência na vida de família, de comunidade-fraternidade e missão. Na primeira séria de reflexão que eu fazia sobre "Compartilhando com Você", aí comentei sobre o valor da paciência na vida familiar, comunitária e social. A idéia básica é esta: ser paciente é entrar em contato com o nosso ser profundo chamado de "eu espiritual", para nele sentir a paz cuja fonte é Deus. Portanto, é dessa Fonte que nascem paciência, humildade e solidariedade.
Nesse sentido, a Bíblia diz que "o SENHOR é paz" (Juízes 6, 24). Quem encontra essa paz no SENHOR é que pode ser e viver com paciência, humildade e solidariedade. Sendo assim, podemos dizer que a Solidariedade em São Francisco de Assis, nasceu do coração do Senhor DEUS de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Jesus Cristo.
Portanto, é na divina Fonte da paz que podemos conseguir a força da paciência para enfrentar os desafios, dificuldades e sofrimentos; a graça da humildade para não sermos arrogantes, orgulhosos e prepotentes; a benção da solidariedade para sermos humanos, compreensivos e cooperadores com os pobres socialmente marginalidade no mundo da vida, onde a desigualdade choca a consciência da gente que deseja a paz.
Quando São Francisco saltou desse mundo desigual, ele se esforçou penitencialmente para cooperar com o resgate da dignidade do ser humano pobre, oprimido e humilhado. No contexto de seu tempo, o caminho que ele encontrou foi acolher e abraçar os pobres de Assis. Por isso, logo que ele organizou uma comunidade-fraternidade de irmãos, disse-lhes: "Os irmãos devem estar satisfeitos quando estão no meio de gente comum e desprezada, de pobres e fracos, de enfermos, leprosos e mendigos de rua" (Regra 1,9).
Onde São Francisco encontrou essa consciência de solidariedade? Nos livros? Nas ciências e tecnologia de ponta? Certamente não! Sem negar o cabedal da "sabedoria do mundo", penso que a solidariedade de São Francisco de Assis nasceu de sua intimidade com o Senhor e de sua inserção no mundo dos pobres.
Portanto, foi no terreno humano "de gente comum" do mundo, que São Francisco encontrou a semente de um novo mundo, para na sua missão agir com senso de amor, de solidariedade e fraternidade. E assim, foi em Deus, nos pobres e na natureza que o profeta e santo de Assis encontrou o segredo da paciência, da humildade e da solidariedade. Encontrando esses valores de humanização, ele, com seus irmãos e irmãs se espalharam pelo mundo da vida, dando Deus a todos "em espírito e verdade" (cf. João 4,23-24).
E aqui, esse "mundo da vida", significa o vasto meio ambiente da criação-natureza, a família, a comunidade, a sociedade e a humanidade. Foi dentro desse mundo de altos e baixos, que São Francisco, seus irmãos e irmãs procuraram viver e espalhar o espírito evangélico de paz, paciência, humildade e solidariedade.
E hoje, o que estamos fazendo para espalhar essa mesma mensagem, no mundo da vida atual? E você que é um romeiro, uma romeira de São Francisco tem se esforçado, penitencialmente, para cooperar com a paz e a solidariedade no mundo da vida? Lembre-se que esse mundo da vida é a natureza ao seu redor, sua família, sua comunidade, a sociedade e a humanidade.
É nesse mundo que, franciscanamente você pode dar Deus com paciência, humildade e solidariedade. E lembre-se: sem discriminar ninguém! Que SENHOR da nossa paz, nos abençoe na missão libertadora de dar Deus ao mundo da vida: com um sorriso espontâneo, um aperto de mão verdadeiro, um abraço sincero com afeto e amizade, uma atitude de presença solidária, um gesto de partilha... O que importa é ser criativo, criativa sem jamais perder o dom da paz e da esperança, nesse mundo atual da vida.
Colaborador: Frei Anízio Freire, OFM.
Fonte: http://www.paroquiadecaninde.com/noticias.php?ident=245#