Ontem
foi a solenidade da Ascensão do Senhor. Nela celebramos a volta de Jesus ao
seio do Pai, na glória do Céu, de onde Ele veio para ficar conosco pela sua
encarnação. Entre nós Jesus viveu durante trinta e três anos. Trinta anos viveu
no seio de sua família e de seu povo, em Nazaré; depois, durante três anos,
realizou sua missão no meio do povo em toda a terra de Israel.
Ele
veio de junto do Pai comunicar-nos um novo modo de viver, de pensar e agir que
chamou de “Reino de Deus” ou “Reino dos céus”. Sua própria vida era a manifestação
daquilo que Ele veio anunciar conforme a vontade do Pai. Mas para acolher e
entender a mensagem do Reino, a humanidade precisava de conversão, isto é, de
mudança de vida, de atitudes, de compreensão do sentido mesmo da vida. Por isso
Jesus proclamava: “Cumpriu-se o tempo, e
o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). O
Evangelho é uma palavra da língua grega que significa boa notícia, boa nova! Jesus veio, então, dar-nos uma boa notícia
da parte de Deus. Esta notícia, a maior de todos os tempos é que somos amados
por Deus e que o sentido de nossa existência é viver para amarmos uns aos
outros e a Ele, nosso Deus e Pai, que nos criou por amor. A vivência desta boa
notícia no dia a dia de nossas vidas vai construindo uma nova humanidade, um
mundo diferente, orientado pelos valores do Reino de Deus e que já o torna
presente na história humana. Até na oração que Jesus nos ensinou, pedimos que venha o Reino, que aconteça de verdade
uma nova maneira de conviver entre homens e mulheres, em que o amor, o perdão,
a solidariedade, a justiça e a paz sejam concretamente vividos todos os dias.
Apesar de já estar presente na história humana, o Reino é sempre uma realidade
transcendente.
A
pregação de Jesus e o seu testemunho foram acolhidos por muitas pessoas,
primeiramente, por um grupo de homens e mulheres, seus discípulos e depois por
multidões em Israel, sobretudo os pobres. Mas entre os ricos e privilegiados,
entre os líderes religiosos e políticos judeus a pregação e a vida de Jesus
foram rejeitadas, pois implicavam mudar de vida, renunciar aos privilégios,
combater a injustiça, as desigualdades e os preconceitos. Por isso Jesus foi
perseguido, preso, crucificado, mas o poder de Deus O ressuscitou e durante
quarenta dias, Ele apareceu e viveu entre seus apóstolos e discípulos, dando
força e orientação e preparando-os para receberem o dom do alto, a força de
Deus, o Espírito Santo.
Voltando
à glória de Deus, no mais alto dos Céu, Jesus nos deixa uma missão: continuar
anunciando e construindo o Reino de Deus em todas as partes do mundo, na
extensão de nosso planeta. Por essa razão, no dia em que celebramos a ascensão do
Senhor, a Igreja comemora o Dia Mundial
das Comunicações Sociais. A grande tarefa da Igreja, sua missão, é anunciar
com palavras, mas sobretudo com o testemunho da vida dos cristãos a Boa Nova do
Reino, transformando a humanidade marcada pelo pecado e pela morte em uma nova
humanidade. Essa é a missão evangelizadora da Igreja de Jesus Cristo. Mas para
anunciarmos a Boa Nova é preciso uma experiência profunda de silêncio, de
escuta obediente da Palavra de Deus.
Em
nosso mundo barulhento e cheio de novas tecnologias da comunicação, precisamos
redescobrir o sentido do silêncio e aprendermos a escutar para que nossa
palavra crie comunicação e comunhão entre os seres humanos e com toda a
natureza.
Por
essa razão, o Papa Bento XVI, na mensagem que escreveu para o 46° Dia Mundial
dos Meios de Comunicações Sociais afirma: “O
Silêncio é parte integrante da comunicação, e, sem ele, não há palavras densas
de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos,
nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que
queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos”. Jesus
deu muito valor ao silêncio e ensinou seus apóstolos e discípulos a escutarem a
vontade de Deus, particularmente na oração. São Francisco, certa vez, saiu com
outro frade para pregar e, passando entre as pessoas, Ascensão do
Senhor, comunicação, testemunho e silêncio nada
disse, mostrando que a pregação nem sempre depende da palavra pronunciada, mas
sempre do testemunho que, em primeiro lugar é fazer-se presente entre as pessoas,
compartilhando suas dores, suas alegrias e esperanças.
Eis
alguns aspectos da solenidade da Ascensão do Senhor que podemos aprofundar este
ano, juntamente com a comemoração do 46° Dia Mundial dos Meios de Comunicações
Sociais.
Ficam
também uns questionamentos para todos nós: O que significa o silêncio para
nós? Qual o valor que damos a ele em
nosso dia a dia? Por que nos custa tanto silenciar e construir dentro de nós o
espaço da verdadeira comunicação?
Frei Marconi Lins, OFM
Ministro Provincial
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