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segunda-feira, 25 de abril de 2011

O COTIDIANO DA PÁSCOA!

Celebramos solenemente o dia da Páscoa do Senhor, fazendo memória de sua gloriosa ressurreição, de sua vitória sobre o pecado e a morte, e reassumimos nosso compromisso de união com Ele, renovando as promessas de nosso batismo na solene Vigília Pascal! Entramos agora no Tempo Pascal, que se estenderá até o Domingo de Pentecostes, neste ano, no dia 12 de junho.

Durante os cinqüenta dias nos quais viveremos o Tempo Pascal, somos convocados pela Igreja a fortalecer nossa esperança e firmar nosso compromisso de testemunhas da ressurreição do Senhor. A exemplo do apóstolo João, no trecho do Evangelho proclamado no domingo de Páscoa, que “viu e acreditou” (Jo 20,8), nós também vimos e acreditamos nos sinais do Cristo ressuscitado em nossa história e vivemos para testemunhar a força da ressurreição do Senhor em nosso dia-a-dia.

O centro de nossa vida cristã é a celebração do mistério pascal do Senhor celebrado diariamente e solenemente a cada domingo, dia pascal por excelência. Por isso, a celebração anual da Páscoa tem a finalidade de nos fazer mergulhar no mistério pascal do Senhor – sua morte e ressurreição – para que a qualidade de nossa vida cristã seja o testemunho concreto daquilo que acreditamos.

Pessoalmente e enquanto comunidade de fé, que é a Igreja, somos testemunhas da ressurreição do Senhor e nossa vida consiste em anunciar a todos os povos que Jesus ressuscitou e é o juiz dos vivos e dos mortos estabelecido por Deus (cf. At 10,42). Mas isso se faz vivendo a vida nova que o Senhor nos deu no batismo e que cada dia buscamos viver num processo de conversão permanente aos valores do Evangelho. O critério de nossa vida é a vida de Jesus Cristo, nosso Senhor! Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo afirma: “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus: quando Cristo, que é a vossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com Ele na glória” (Cl 3,1-4). Procurar as coisas do alto não significa alienar-nos da realidade da terra e não nos comprometermos com a construção da justiça e da paz. Pelo contrário, nossa fé na ressurreição do Senhor nos motiva e nos faz construtores dos valores do Reino do Céu neste mundo, em nossa história, todos os dias! A vida em Cristo é uma vida transformada pelo Evangelho e que nos faz instrumentos da transformação do mundo!

Quando Jesus nos chama a ser luz e sal da terra, Ele quer nos motivar a viver nossa vocação de continuadores da vida que Ele viveu, e passar pelo que Ele passou: perseguição e morte por causa do Reino do Pai.

Temos que somar com os homens e mulheres de boa vontade que já estão engajados na construção da justiça e da paz, na defesa dos direitos dos pobres e na proteção do meio ambiente, inclusive sofrendo perseguição e até dando sua vida por essas causas! Os meios de comunicação mostram só em parte a luta permanente dessas pessoas! E nós, porque acreditamos na ressurreição de Jesus Cristo e vivemos dela, devemos com maior empenho testemunhá-la mostrando que a causa de Cristo e Sua morte e ressurreição é a vida em abundância que nosso Deus e Pai quer para toda a humanidade e toda a criação!

Viver a Páscoa é, então, a razão de nossa vida cristã!

Frei Marconi Lins, OFM

sexta-feira, 22 de abril de 2011

TRÍDUO PASCAL - DOAÇÃO - PAIXÃO - VIDA



Por Frei Alvaci Mendes


Mergulhados na infinita bondade de Deus, buscando a conversão do coração como proposta de vida, tentando mudar nossas atitudes e anseios, chegamos mais uma vez às celebrações da Semana Santa, a semana dos cristãos, a semana especial, enfim, a mais significativa das semanas. E toda a liturgia parece nos querer falar de um amor insondável, de um mistério infinito, de uma bondade sem limites. Por que será que toca tanto nossa alma quando relembramos e revivemos os mistérios dos últimos dias do Senhor em nosso meio? Por que a paixão, a dor, o abandono, a solidão, a morte, parecem dizer tanto a nós cristãos? Por que corremos ao encontro daquele que é a Luz que destrói as trevas e elimina o poder da morte?

Gostaria de destacar, aqui, os passos do mistério que vamos celebrar juntos a partir da quinta feira santa, com a missa vespertina, ou seja, a grande celebração da Páscoa dos cristãos, no que chamamos de “Tríduo Pascal”. Entender bem, estes três momentos fortes como uma única e grande celebração da vida é poder entrar definitivamente na comunhão com o Cristo, única e verdadeira Páscoa. Trata-se, portanto, de uma celebração com três momentos distintos, mas integrados. Três faces de um mesmo mistério: a Páscoa.

QUINTA-FEIRA SANTA
Dia do mandamento novo;
do ministério da doação; do Lava-pés

Ele, o Mestre, deu testemunho do que dizia, manda amar a todos, ensina que é no lavar os pés: sujos, descalços, pobres, que se identificam os seus seguidores. Que amar aqueles que lhe amam é fácil, mas amar os inimigos, aqueles que comem na mesma mesa sem ser dignos dela, é ser diferente.
Na missa desta tarde-noite, antecipa-se a entrega total na doação eucarística (Última Ceia). Celebramos o amor que se doa, na cruz e na glória. Mergulhamos, portanto, na sublimidade pascal. Tudo nesta Ceia-doação nos leva à descoberta do amor. É nesta missa que se inicia o Tríduo Pascal.

SEXTA-FEIRA SANTA
Amor levado ao extremo;
entrega; sofrimento; morte

Nossas igrejas se enchem, choramos aquele que morre na cruz, caminhamos lado a lado com o Senhor Morto. É a sexta feira da Paixão. Aquele que ontem havia celebrado a Ceia com os seus, mas que havia sido na mesma noite entregue aos “homens deste mundo”, agora jaz no madeiro.

Contudo, e aqui está a beleza da liturgia integrada como única celebração de vida, adoramos o madeiro e o beijamos porque ele, o madeiro da dor, é sinal de glória. Nele adoramos aquele que viverá, que ressurgirá da morte e nos libertará a todos. Identificamo-nos tanto com Ele neste dia que até entendemos que nossas cruzes diárias são parte de nossa humanidade, e que aceitá-las e tentar entendê-las talvez seja um primeiro passo para a vida nova, que todos buscamos. A cruz lembra dor, mas reforça a certeza da vitória.

SÁBADO SANTO
Saudade; esperança;
vigília; luz; Vitória; Vida Nova

Começamos o Sábado lembrando aquele que jaz no sepulcro. A manhã deste dia ainda é de recolhimento. Mas, fica sempre aquela cepa de certeza, aquele gostinho de esperança que brota do mais profundo da alma.

A tarde chega, a noite cai. É hora da Vigília das Vigílias, como dizia Santo Agostinho, da luz das luzes, do poder da vida sobre a morte. Afinal, ressuscitado e vivo é o nosso Deus. É por isso que esta noite é tão cheia de significados e de símbolos: Liturgia do fogo e da luz; Liturgia da Palavra; Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. Somos, com Cristo, ressuscitados para uma vida nova; somos banhados na pia batismal como homens novos, porque “ele vive e podemos crer no amanhã”; somos povo que caminha rumo, não mais a terra prometida, mas rumo ao Reino dos céus; enfim, comungamos aquele que é o Senhor ressuscitado, nossa Páscoa.

Tudo deveria refletir em nós a alegria que estamos sentindo. A Igreja, toda, iluminada pela luz do Filho do Deus Vivo, mergulhada no abismo de tão profundo mistério e envolvida com a missão de seu Divino Mestre, deveria cantar a uma só voz o “Aleluia”, guardado para este momento tão sublime. E lembrar que a partir deste momento, somos com Ele, ressuscitados para um mundo novo, alicerçado na paz, na justiça, no amor, na concórdia e na fraternidade, onde a Eucaristia brilha mais intensamente como lugar de partilha, de comunhão verdadeira e de ação. Não podemos esquecer que somos sinais, do Cristo ressuscitado.

O tríduo termina com a oração das vésperas (tarde) do Domingo de Páscoa, que é o domingo dos domingos, como afirma Santo Atanásio, mas não a culminação de um tríduo preparatório, e sim a reafirmação da Vitória, já celebrada na grande Vigília do dia anterior.

O maior tesouro da liturgia está nestes três dias, nos quais recordamos a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Nosso Senhor. O tríduo pascal é a celebração mais importante na vida da Igreja, na há celebração, em ordem de grandeza que se possa colocar em seu nível. Assim, estes três dias são o centro não só do ciclo da Páscoa como tal, mas também de toda a liturgia e de toda a Igreja.
Que possamos celebrar bem estes dias e que a certeza do Senhor que Vive e Reina, seja a maior das certezas de nossa vida cristã. O mistério pascal que celebramos nos dias do sagrado tríduo é a pauta e o programa que devemos seguir em nossas vidas.


Fonte: http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2011/pascoa_2011/21.php

segunda-feira, 18 de abril de 2011

VIVER COM PROFUNDIDADE A SEMANA SANTA


Iniciamos, ontem, com o Domingo de Ramos ou da Paixão, a Semana Santa que nos leva à celebração do mistério pascal do Senhor Jesus: sua paixão, morte e ressurreição. Como pudemos perceber, pelas leituras proclamadas na liturgia de ontem, Jesus é o Servo sofredor, o “Servo de Javé”, de quem fala o profeta Isaías. É aquele que, ouvindo obedientemente a vontade do Pai, realiza Sua vontade que é vida em abundancia para a humanidade e também para toda criação. Jesus veio refazer a aliança de amor feita por Deus com toda a humanidade, mas quebrada pela desobediência, pelo pecado e pela prepotência dos homens e das mulheres. Por isso, como diz São Paulo na carta aos Filipenses, “ele, existindo em forma divina... despojou-se assumindo a condição de escravo e tornando-se igual ao ser humano. Aparecendo como qualquer homem, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2,6-8).

Mesmo sendo Deus, Jesus se fez homem; divino, assumiu nossos pecados; poderoso, pois tudo que existe foi criado pela Sua palavra, fez-se servo de todos, ensinando-nos que o egoísmo, a prepotência, o querer ser maior do que os outros é a causa de tudo de ruim que acontece entre nós: a desunião, a violência, as guerras, a desigualdade, a fome, os preconceitos, enfim o que diariamente enche as manchetes dos jornais e os noticiários dos meios de comunicação!
A vida que Jesus viveu e suas palavras pronunciadas nas ruas, nas sinagogas, no templo de Jerusalém, nas casas, no deserto, mostram claramente que a vida humana pode ser diferente se nós deixamos que Ele oriente nossa vida, isto é, nosso ser e agir de cada dia. Daí porque a semana santa, sobretudo a sexta-feira, não é tempo de luto, pois Jesus morreu e ressuscitou, e não morre mais. Ele está vivo e glorioso à direita do Pai, de onde o aguardamos para a conclusão da história humana, o Dia do Senhor, que só Ele sabe quando será. Mas, enquanto o aguardamos, devemos deixar que nossa vida seja transformada pela Dela. Devemos viver um processo permanente de conversão ao Evangelho. É isso que nos faz novas criaturas, “filhas e filhos de Deus sem defeito, no meio de uma geração má e perversa, na qual brilhais como luzeiros no mundo, apegados firmemente à palavra de vida” (Fl 2,15s).

Aproveitemos os dias desta semana santa para silenciar, meditar e avaliar a qualidade de nossa vida cristã! Estamos no país em que a maioria das pessoas se diz cristã, fala de Cristo e então? Não poderíamos viver melhor? Nosso testemunho de vida não deveria criar impacto numa sociedade cheia de contradições e incoerências onde uns vivem como reis e a maioria como escravos! E todos escravos de um modo de viver onde o dinheiro é o valor maior e até confundido com a segurança da pessoa humana!?

Jesus carregando a cruz, a caminho do calvário continua nos encontrando em nossos caminhos e dizendo: “... não choreis por mim! Chorai por vós mesmos e por vossos filhos!” (cf. Lc 23,28). Jesus não sofre mais, no entanto é grande o sofrimento de muitos homens e mulheres, crianças, jovens e idosos, que vivem na miséria, passam fome, são vítimas da violência, da droga, do desemprego, da falta de condições de morar dignamente, de cuidar da saúde e da falta de esperança e de perspectiva de vida...

Por isso, celebrar a paixão e morte do Senhor é assumir o compromisso com a vida que Jesus nos trouxe do Pai, também a vida do planeta que geme em dores de parto, pela destruição que sofre!

Celebrar a semana santa e o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor é viver uma vida nova onde “dividimos o tempo que recebemos de Deus”, como fazia São Francisco: “uma parte para auxiliar o próximo e outra para a contemplação, isto é, para dedicar a Deus” (cf. 1C 91).

Vivamos intensamente a liturgia desta semana! Que o jejum e a abstinência de carne na sexta-feira santa não sejam somente um costume do passado, um rito vazio de conteúdo, mas um modo de nos solidarizar com um mundo onde a fome ainda mata milhões de irmãos nossos todos dias! Vivamos esta semana no espírito quaresmal de São Francisco, buscado “o mesmo sentir e pensar que de Cristo Jesus” (cf. Fl 2,5).

Paz e Bem para vocêsI
Frei Marconi Lins, OFM

domingo, 17 de abril de 2011

NAQUELE DOMINGO DE RAMOS


Chegou a noite. Noite velha, todos dormem no palácio. Clara esperou aquela hora segura, com receio de que lhes estorvassem os propósitos. Dirigiu-se a uma porta escusa, a “porta dos mortos” que só se abria quando alguém morria em casa, para por ela sair o enterro; arredou as pesadas batentes e a pedra que as escorava, e com Pacífica de Guelfúccio meteu ao escuro da noite em direção à Porciúncula (Fernando Felix Lopes, O Poverello São Francisco de Assis, Braga, p. 226).

1. Assim, Fernando Felix Lopes descreve a “fuga” noturna de Clara com o jeito português com que esse autor escreve. Essa seria uma primeiríssima etapa de suas andanças, da peregrina Chiara dos Favarone e Offreduccio. A aventura, sim literalmente a aventura, começa no Domingo de Ramos de 1212. Uma mulher muito jovem, filha da aristocracia, chamada Clara e um rapaz cheio de zelo e de fogo, Francesco, esse Francesco que vive para sempre porque para sempre está grudado ao Evangelho, foram os protagonistas desta aventura. Uma menina, filha de mãe piedosa e firme, mulher das peregrinações, mulher forte. Ortolana teve papel importante na decisão de Clara. Sua filha, menina iluminada, era feita para coisas diferentes. Ortolona não era ingênua. Sabia muito bem disto. As coisas pareciam maduras. Estava na hora da saída... de sair para caminhar como Abraão que devia deixar tudo... e caminhar sem mapa na mão para uma terra que Deus haveria de lhe mostrar.

2. Clara “estava firmemente decidida a imitar o exemplo de Francisco e de seus frades, ainda que a sua resolução lhe exigisse os mais árduos sacrifícios. Na quaresma de 1212, a esposa escuta a voz do amado que a chama ao deserto. Claire-Pascale Janet (Sainte Clare d’Assise, Fayard 1989) escreve uma biografia da santa como se Clara estivesse escrevendo seu diário. Era 18 de março de 1212 (segundo a autora): “Está decidido. Como fazer esperar mais ainda aquele que se me entregou totalmente? Nessa caminhada da Quaresma ouço a sugestão que me faz: “Vem, eu vou te levar ao deserto para falar ao teu coração, e tu me responderás com todo o teu ser, com todo o teu coração e com todas as tuas forças. Sinto como que uma queimadura o amor que levou Francisco de ruptura em ruptura. Eis o que procuro: a pobreza de Cristo. Um caminho novo se abre diante de meus passos” (p. 52).

3. Um caminho novo... da Porciúncula para São Paulo das Abadessas, para Santo Angelo de Panzo, para São Damião... Mas esses deslocamentos exteriores não são os mais significativos... Na exiguidade dos espaços de São Damião foi preciso caminhar interiormente para enxergar a terra das promessas.... acompanhar com o coração os frades pelo mundo, refletir e pesar esse desejo de ir pelo mundo afora.... viver a tristeza da perda de Francisco... ter vontade de morrer nas missões.... Nunca parar, sempre estar em estado de êxodo... como as irmãs clarissas de hoje, na fidelidade ao passado, saberão mostrar ao mundo inteiro a força daquela noite de Ramos de 1212. Sempre caminhando na direção de um mundo novo, nada de mesmice, de fixismo, de imobilismo.

4. “Impossível advertir minha família. Quando Rufino, meu primo, se juntou ao grupo de Francisco já foi um drama. A única maneira é fazer com que os meus sejam colocados diante do fato consumado. Não sou insensível ao sofrimento deles, mas a realização da vontade de Deus se paga com este preço. O bispo Guido já está a par e Francisco me mandou sua bênção. Tudo se fará nos umbrais da Grande Semana, quando Cristo tornou se rosto duro como uma pedra para subir a Jerusalém e entrar livremente em sua Paixão” ( Claire-Pascale, op.cit., p. 52).

5. O que aconteceu durante aquele dia? Joaquim Capela, OFM , no seu Santa Clara de Assis (Braga, 1949) assim descreve a cena: “Chegado que foi esse dia, Clara adornando-se dos seus mais preciosos vestidos por ordem de Francisco, dirigiu-se à Catedral de São Rufino na companhia da família para assistir a cerimônia da bênção e da distribuição dos ramos. O templo estava repleto de fiéis, e no meio do burburinho próprio da ocasião, ela, conservando-se recolhida e concentrada em um canto, parecia alheada a tudo o que se passava em torno. No momento da distribuição dos ramos, todos se levantaram para receber o seu, menos Clara que continuava em profunda meditação, como se não prestasse a mínima atenção ao ato que estava realizando, e não se moveu de seu lugar. Com grande admiração dos assistentes, o bispo desceu os degraus do altar e foi colocar na mão da donzela uma linda palma. Esta ação do prelado deixa perceber que ele estaria ao corrente do que ia se passar. Quis dar à filha de Ortolona aquela distinção para a animar no seu generoso propósito” (p.52).

6. Aquele dia parecia interminável para Clara. Era preciso esperar a noite, a grande noite chegar. “Noite velha...”, no dizer de Fernando Felix Lopes. “Altas horas da noite, quando no palácio de Favarone já todos estavam recolhidos, Clara saiu ocultamente com sua amiga Guelfuccio em direção a Santa Maria dos Anjos. Com receio de ser pressentida não quis sair pela porta principal. Havia uma outra porta traseira, tapada com pedras e toras de madeira, e foi por ela que a jovem escapuliu, depois de conseguir abri-la à custa de muito esforço” (Capela, 52-53). O autor, em nota de rodapé, faz duas observações. Do processo da canonização de Clara depreende-se que foi Bona de Guelfuccio que a acompanhou na fuga, mas provavelmente Filipa de Guelfuccio, também muito amiga e confidente de Clara e que poucos anos depois se lhe juntou em São Damião. A segunda observação é a respeito da porta dos mortos. Na Úmbria era costume obstruir a porta por onde havia saído o cadáver de alguma pessoa da família de mau agouro voltar alguém a servir-se daquela porta.

7. Clara e sua amiga descem as ruas silenciosas na direção da Porciúncula. Lá naquela capela, os frades esperavam por Clara que iria ser vestida, faria sua profissão e tudo em pouco tempo nos umbrais da Semana Santa. Marco Bartoli é de parecer que Tomás de Celano, em sua Legenda de Santa Clara quer realçar uma celebração litúrgica no momento em que Clara chega a São Damião. Clara escolhe o mundo dos pobres, quer estar entre os mais abandonados como Cristo, seu amado e amado de Francisco. Padre Fernando Felix Lopes assim descreve a cena da chegada: “Àquela hora, os frades recolhidos em oração diante do retábulo da Virgem pedem para Clara a proteção de Deus: e, depois, saem com tochas nas mãos ao encontro da jovem donzela. Alumiada no candor de seus vestidos de gala, as sombras boleando-se nas copas do arvoredo de à beira do caminho, treme-lhe o coração naquele momento tão grande. E a nobre virgem entra na pobreza da Porciúncula, a fazer-se pobre. Rompe, comovido e devoto, o canto dos hinos e salmodia: também os frades sentem a grandeza nova de hora tão solene. Clara despoja-se dos seus vestidos ricos, e Francisco veste-lhe a túnica de burel áspero; igual a que vestiam os frades, ata-lhe à cintura uma corda, e com o rito costumado da consagração das virgens, corta-lhe as tranças fartas e cobre-lhe a cabeça com o véu branco e preto, de pano grosseiro” (Fernando Félix Lopes, p.227).

8.
Marco Bartoli vendo no relato da Legenda de Tomás de Celano uma grande liturgia faz observações quem merecem nossa atenção. Não posso me privar ao dever e prazer de transcrever as linhas de Bartoli, pedindo desculpas pela longa citação (Clara de Assis, FFB/Vozes): “Todo o relato de Celano parece realçar a estrutura litúrgica. Clara, por determinação de Francisco, deveria se vestir “bela e elegantemente” , celebrar com toda a cidade a entrada de Jesus em Jerusalém, mas depois, à noite, abandonaria aquela alegria pelo despojamento de suas vestes, passando a seguir o Senhor que tinha visto a alegria da entrada gloriosa em Jerusalém na dor da via crucis (...). Quem preparou esta “fuga litúrgica” foi sem dúvida o próprio Francisco. Foi ele que, com suas mãos, cortou os cabelos de Clara e, com isto, consagrou-a ao Senhor. Não resta dúvida que se tratava de um gesto litúrgico. Poderia pairar uma certa dúvida pelo fato de que a legenda não use a palavra tonsura, termo técnico com o qual se indicava o corte de cabelo na cerimônia de consagração das virgens. O termo, no entanto, é até usado na bula de canonização Clara claris praeclara: Et ipso beato Francisco sacra ibi recepta tonsura ... (e depois de ter recebido a tonsura do mesmo bem-aventurado Francisco). Talvez Tomás de Celano não tenha querido dar realce à tonsura realizada por Francisco naquela noite de Domingo de Ramos, por estar plenamente consciente da excepcionalidade de semelhante gesto. Clara não era uma jovem que estava sendo encaminhada por seus pais à vida monástica.. Era uma moça que tinha fugido de casa, indo ao encontro do desprezo e da desaprovação de todos. Francisco não era bispo - a quem normalmente era reservada a consagração das virgens – e nem mesmo sacerdote. E, apesar disso, se arrogou o direito, como um simples leigo de consagrar Clara ao Senhor. É evidente o alcance extraordinário do gesto de Clara e da escolha que com ela fez Francisco, com respeito aos costumes da época. Pra realçar tudo isso, Francisco quis dar a esta fuga um valor litúrgico. Pode-se até dizer que até “inventou” uma nova liturgia para acolher dignamente Clara em nome do Senhor. Uma tal liturgia que abarcava o arco de todo um dia e era a expressão da criatividade religiosa do santo inventor da liturgia do presépio em Greccio (p.60).

9. E assim terminavam as horas daquele extraordinário domingo de Ramos em que Clara renunciava a tudo, mudava de categoria social, vestia-se dos trajes da pobreza e professava o seguimento do Cristo pobre e apaixonante. Que caminhos lhe seriam abertos? Que surpresas em cada curva da estrada? Isso não lhe competia dizer. Ela sabia em quem havia confiado. Que caminhos novos ou velhos trilharão as clarissas? O que a Igreja precisa delas neste mundo de indiferença, pluralismo confuso, individualismo? Tinha chegado e já ia passando a noite em que Clara se tinha embrenhado no escuro rumo à Porciúncula. E disto comemoramos 800 anos...

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/v3/carisma/especiais/2011/staclara/14.php

segunda-feira, 11 de abril de 2011

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA SANTA E PÁSCOA DO SENHOR 2011 NO CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO DO RECIFE

SÁBADO, 16 DE ABRIL:

• 17hs Missa

DOMINGO, 17 DE ABRIL:

• 17hs – Missa de Ramos
(trazer ramos de plantas medicinais)

SEGUNDA-FEIRA, 18 DE ABRIL:

• 09h às 11h - Confissões

• 15h às 17h - Confissões

• 19h – Celebração da Misericórdia


TERÇA-FEIRA, 19 DE ABRIL:


• 09h às 11h – Confissões

• 15h às 16h – Confissões

• 16h - Eucaristia

• 17h – Celebração da Misericórdia


QUARTA-FEIRA, 20 DE ABRIL:


• 09h às 11h – Confissões

• 15h às 17h – Confissões

• 19h – Celebração da Misericórdia


TRÍDUO PASCAL DO SENHOR
(o Tríduo Pascal do Crucificado, Sepultado e Ressuscitado, tem início com a Missa da Ceia do Senhor e tem seu ponto culminante na Solene Vigília Pascal)

QUINTA- FEIRA, SANTA, 21 DE ABRIL:


• 17h – Missa da Ceia do Senhor (Lava-pés) (A Eucaristia será na Igreja da Ordem Terceira e a Adoração ao Santíssimo no Convento)

SEXTA-FEIRA SANTA, 22 DE ABRIL:

• 15h - Celebração da Paixão e Morte do Senhor (Em seguida Procissão do Senhor morto, voltando Para a Igreja da Ordem Terceira)


SÁBADO SANTO, 23 DE ABRIL:


• 17h - Solene Celebração da Vigília Pascal (trazer água e algo para a confraternização de Páscoa, vir com roupa clara)


DOMINGO DE PÁSCOA, 24 DE ABRIL:


• 17h - Missa de Páscoa

quinta-feira, 7 de abril de 2011

TEMPO FORTE DE FORMAÇÃO PERMANENTE


Foram dez dias de convívio fraterno, oração, reflexão e partilha que nos ajudarão muito em nosso serviço de animação das entidades franciscanas (províncias, custódias e fundações) do Brasil e do Cone-Sul (Argentina, Chile e Paraguai). Assim podemos definir o que foi o Encontro do Governo Geral da Ordem dos Frades Menores e as Conferencias do Brasil e Cone-Sul, realizado nos dias 27 a 31 de março e a Assembleia da Conferencia dos Ministros Provinciais OFM do Brasil (CFMB), de 2 a 5 de abril, em Manaus, AM.

Nós, que temos a missão de animar as fraternidades franciscanas reunidas em províncias, custódias e fundações – nome dado às entidades franciscanas, de acordo com o número de frades ou dependência de outra entidade – saímos de Manaus felizes e mais comprometidos com o presente e o futuro da vida dos frades menores não só no Brasil, onde somos onze entidades, mas também no Cone-Sul, formado por cinco entidades. Estiveram conosco, nos dias 27 a 31 de março, nosso Ministro Geral, Frei José Rodríguez Carballo, o Vigário Geral, Frei Michael Anthony Perry, e os Definidores Gerais: Frei Nestor Schwerz, Frei Julio Bunander, Frei Francis Valter, Frei Roger Marchal, Frei Vicente Tapia e Frei Vicent Zungu.

Usando o método ver, julgar e agir, partilhamos entre nós e com o Governo geral, a realidade de nossas entidades, suas luzes e sombras, suas esperanças e desafios. Podemos perceber que o Espírito Santo, verdadeiro Ministro geral da Ordem, como dizia São Francisco, nos acompanha, ilumina e interpela para que nós – frades menores – do Brasil, Argentina, Chile e Paraguai, redescubramos a riqueza de nosso Carisma Franciscano e o que significa viver o Evangelho de Jesus Cristo na realidade onde estamos inseridos. Os desafios de um mundo em rápidas mudanças, onde a pobreza aumenta, apesar do avanço tecnológico e onde a natureza, particularmente a Amazônia, está ameaçada pela devastação da lógica do dinheiro, estiveram muito presentes nesses dias, não só quando refletíamos mas também quando visitamos a periferia de Manaus e num barco, percorremos um bom trecho do Rio Negro e Solimões, formando o Rio Amazonas.

Temas como identidade franciscana, redimensionamento, formação permanente e missão evangelizadora foram refletidos e aprofundados, levando em conta nossa realidade, na qual percebemos muitas fraquezas, sobretudo no que se refere a nossa vida em fraternidade, o sentido de pertença e fidelidade ao carisma de São Francisco e a forma de vida evangélica que ele nos deixou para vivermos. Mas também encontramos luzes e encaminhamentos concretos que nos podem fazer recuperar a criatividade de nossa vida de frades menores.

Investir na formação permanente e inicial para que a qualidade evangélica de nossa vida se reflita em nossa vida fraterna e em nossa presença na Igreja e no mundo, parece ser um desafio urgente e para o qual devemos encontrar mediações eficazes tais como acompanhar a formação dos guardiães, animadores das fraternidades, acompanhamento pessoal dos novos frades, rever nossas estruturas para que elas não sufoquem o testemunho de vida fraterna, nosso primeiro modo de evangelizar e priorizar uma presença de irmãos menores comprometidos com a justiça, a paz e a reverencia à criação.


O Projeto Amazônia que visa fortalecer nossa presença na Amazônia continental foi bastante refletido e teve encaminhamentos concretos: vamos abrir uma presença fraterna e missionária em Requena, no Peru. Somamo-nos a outras iniciativas missionárias da Igreja que buscam viver o Evangelho na desafiadora região Amazônica, rica em biodiversidade, com muitos povos indígenas, mas ameaçada pelas madeireiras, mineradoras, prospecção de petróleo e pelos projetos agropecuários que não pensam na preservação do meio ambiente nem nas populações indígenas e ribeirinhas à grande bacia hidrográfica desta belíssima região.

Estamos convencidos de que a riqueza espiritual do carisma franciscano não pode estar ausente desta região e de nosso continente latino-americano, por isso, temos que formar fraternidades, com o coração voltado para o Senhor, fiéis ao Evangelho e à forma de vida que Francisco de Assis viveu há 800 anos e que ainda hoje encanta e interpela homens e mulheres no mundo inteiro.

Voltamos para nossas fraternidades comprometidos em partilhar em nossas fraternidades e também com o povo de Deus, com quem compartilhamos nossa vida e missão, o que ouvimos, vimos e tocamos pela força do Evangelho razão de ser de nossa vida de frades menores.

Frei Marconi Lins, OFM

sexta-feira, 1 de abril de 2011

TERMINA EM MANAUS A REUNIÃO DO MINISTRO GERAL E DEFINITÓRIO COM CONFERÊNCIAS BRASILEIRAS E CONE SUL


Compromisso

Foi elaborado um pequeno texto em forma de compromisso que os Provinciais, Custódios e Presidentes duas Conferência do Brasil e do Cone-Sul assumiram no ministério do cuidado dos irmãos em suas respectivas entidades.

  1. Comunicados práticos do Ministro e Definidores Gerais
    a) Frei José Rodrigues Carballo falou da importância do nossa Pontifícia Universidade Antonianum: o recente encontro com todos os professores da PUA, questão das especializações (valorizar os cursos da PUA); os desafios da Faculdade de Jerusalém, o Colégio Internacional Frei Gabriel Alegra (critérios e cuidados); dificuldades das bolsas de estudo; a economia da Cúria Geral; as reformas; solidariedade....
    b) Frei Michael Perry, Vigário Geral: os projetos extraordinários devem ser encaminhados até o fim de abril para posteriores avaliações e encaminhamentos.
    c) Frei Julio Bunader, Definidor Geral, falou pelo Secretariado Geral para a Formação e Estudos: o encontro intercontinental em Bogotá (Formação e Vocação); o encontros dos Secretários pra a Formação e Estudos das Conferências e o encontro internacional ‘under ten’, em 2012 e Guadalajara.
    d) Frei Roger Marchal, Definidor Geral, Encontro da comissão do Serviço para o diálogo inter-religioso.
    e) Frei Nestor Schwerz: Congresso internacional do Secretariado para a Evangelização em Petrópolis; congresso dos Educadores Franciscanos em Quito (2012); o subsídio formativo do Cap V das Constituições Gerais; Congresso missionário em 2012.
    f) Frei Vicente Tapia: Curso do JPIC no Antonianum e o encontro continental do JPIC em Quito.

    2. Pedidos especiais do Ministro Geral aos Ministros das Entidades:

    a) trabalhar o tema da Identidade;

    b) aprofundar a questão da pertença;

    c) Revitalizar a Fraternidade (ela deve ser real);

    d) Rever a Formação;

    e) Evangelização e formação são inseparáveis;

    f) colocar em prática o projeto Fraterno de vida e missão;
g)Rever o redimensionamento ad intra e ad extra;

h) Continuar o trabalho do Moratorium.

E tudo numa entrega total e com muita oração

Missa de Ação de graças:

Às 18 horas, na capela do Seminário da Diocese de Manaus, com a presença dos seminaristas diocesanos, religiosas, OFS, frades Capuchinhos, Formandos da Custódia de São Benedito e Ministros da Entidades, Frei José Rodrigues Carballo, presidiu a missa de encerramento e ação de Graças.


Fonte: http://www.franciscanos.org.br/v3/carisma/especiais/2011/manaus/03.php

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