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sábado, 19 de novembro de 2011

CRISTO REI E JUIZ

Quando foi instituída, a festa de Cristo Rei tinha um nítido caráter militante: celebrava o Reino de Cristo na terra(cf. a espiritualidade da Ação Católica). A renovação litúrgica fez desta festa o encerramento do ano litúrgico, acentuando mais o caráter transcendente e escatológico do reinado de Cristo, ao mesmo tempo rei messiânico (Pastor) e Filho do Homem (Juiz), trazendo a paz e o juízo.

O cerne desta liturgia é a parábola do Último Juízo (Mt 25,31-46), em que Cristo aparece como juiz escatológico, Filho do Homem, pastor messiânico e rei do universo (evangelho). Tal amontoado de imagens numa só parábola não é comum, porém explica-se a partir do fundo veterotestamentário: a imagem do pastor em Ez 34(1ª leitura). Aí aparece Deus como Pastor escatológico (já que os pastores temporários, os reis de Israel, não prestam), para tomar conta do rebanho, cuidar das ovelhas enfermas e pronunciar o juízo entre ovelhas e bodes. O texto completo de Ez 34 (não lido na liturgia) traz ainda outros elementos que permitem compreender melhor a parábola do Último Juízo. Deus fará justiça entre ovelhas gordas e ovelhas magras (protetor dos fracos). Enfim, segundo Ez 34,23s, não é Deus pessoalmente, mas o Rei davídico messiânico que executará essas tarefas.

A parábola de Jesus explica o critério do juízo final: as obras de solidariedade, feitas ou deixadas de fazer aos pobres, são que decidem da participação ou não-participação do Reino. Este critério não é expressamente “religioso”, relacionado com Deus como tal: os justos não sabem que os pobres representavam o Rei, eles não praticaram a misericórdia para impressionar o Rei, mas por pura bondade e compaixão para com o necessitado. Essa despretensiosa bondade, inconsciente de si mesma, e o critério para separar “ovelhas e bodes”, pessoas de entranhado amor e pessoas de mera força.

Ora, olhando para a 1ª leitura, notamos que essa compaixão gratuita, que é o critério do Reino, e, no fundo uma imitação daquilo que Deus mesmo faz.Assumindo a causa dos fracos - dos famintos, desnudos, presos etc. – mostramo-nos filhos de Deus, “benditos do Pai” (Mt 25,34). A tradição judaica atribui a Deus mesmo as obras que são aqui elencadas. De modo que podemos dizer: o Último Juízo será a confirmação definitiva da nossa participação na obra divina, desde já. Pois ser bom gratuitamente é o próprio ser de Deus: amor, misericórdia.

A bondade gratuita e pura revela-se quando a gente se dedica aos que não podem retribuir. É na doação ao “último dos homens”, o pobre, o marginalizado, o abandonado, que a gente dá prova de uma misericórdia de tipo divino. Viver deve ser: assumir a causa dos que mais precisam. Deus mesmo faz assim. Este é o critério da eterna participação no senhorio de Deus e Jesus Cristo, seu filho predileto. Se somos “imitadores” de Deus já agora, podemos “agüentar” uma eternidade com ele (cf. oração final).

A 2ª leitura descreve a total vitória de Cristo sobre todos os inimigos, inclusive a morte. Restaura assim a criação toda, pois, assim como com o primeiro Adão entrou a morte na vida, no novo Adão é vitoriosa a ressurreição. Mas esta vitória não pertence a Jesus como propriedade particular. Tendo submetido tudo a si, ele o submeterá ao Pai, para que Deus seja tudo em todas as coisas, e seja abolido o que é incompatível com Deus. Cristo aparece, assim, não apenas como rei messiânico, mas cósmico e universal. Porém, não um rei triunfalista, pois seu Reino é baseado no dom de si mesmo. É o Reino do “Cordeiro” morto e ressuscitado (canto da entrada), não dos lobos. É a antecipação da vitória final dos que se doam ao mínimo dos seus irmãos.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/liturgia/liturgiadominical/2011/novembro/201111b.php

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