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terça-feira, 16 de agosto de 2011

UM DEUS QUE É DE TODOS

Ainda não esquecemos o massacre perpetrado por um jovem norueguês que ceifou a vida de pelo menos 77 pessoas e que deixou não só a Noruega, mas o mundo inteiro estarrecido. O preconceito racial e religioso teria sido a causa principal de tamanha atrocidade! Não podemos negar que cresce, no mundo todo, apesar do avança na área dos direitos humanos, a intolerância em nível racial, religioso, social, ideológico, sexual e muitos outros que vão construindo barreiras, comprometendo o diálogo e a solidariedade entre os povos.

Na semana passada a violência de jovens de bairros pobres em várias cidades da Inglaterra ocupou o noticiário internacional. Na Itália, migrantes vindos da Nigéria, Gana e Somália eram barrados, tentando entrar clandestinamente naquele país europeu. Entre nós, aqui no Brasil, vemos crescer a violência doméstica, contra moradores de rua, indígenas, afro-descendentes...

Dentro deste panorama confuso onde encontramos antagonicamente a tolerância e a luta pelo pelos direitos da pessoa, a intolerância e o crescimento do preconceito, a Palavra de Deus nos oferece luz e orientação para construirmos um outro mundo possível, baseado no amor, no respeito e no acolhimento ao diferente. Foi assim que ontem, os textos proclamados no 20º domingo do tempo comum, trouxeram à tona a problemática do povo judeu em relação aos estrangeiros, chamado de pagão.

O povo da Bíblia sempre se achou um povo especial, autodenominando-se povo eleito por Deus, muitas vezes menosprezando os outros povos. Mas os profetas, como Isaías, sempre apontaram para uma missão universal do povo de Israel e sua corresponsabilidade com a felicidade e a salvação dos outros povos. O templo de Jerusalém, lugar sagrado e tido como exclusivo do povo de Israel é transformado por Deus em “casa de oração de todos os povos” (Is 56,7). São Paulo, judeu ortodoxo, torna-se, no encontro com Jesus no caminho de Damasco, apóstolo dos gentios.

E como interpretar o encontro de Jesus com a mulher cananéia que pede a cura da filha endemoniada, chamando Jesus de “Senhor, filho de Davi”? Só o fato de estar na região de Tiro e Sidônia, terra de pagãos, mostra que apesar dele mesmo afirmar que veio senão para as ovelhas perdidas da casa de Israel, sua missão tem alcance universal, sobretudo pelo diálogo que ele manteve com a mulher cananéia e no reconhecimento de sua fé.

Ao longo da história do cristianismo, vai ficando evidente a mensagem universal do Evangelho de Jesus Cristo através de afirmações como as do apóstolo Paulo: “Não há mais nem judeu nem grego; já não há mais nem escravo nem homem livre, já não há mais o homem e a mulher, pois todos vós sois um em Cristo” (Gl 3,28); e também: “Deus não faz acepção de pessoas” (Rm 2,11). Somos chamados a derrubar o mura da inimizade que divide as pessoas por causa da raça, da cor, da religião e de tantas outras diferenças que carregamos em nossa história e em nossa cultura. Precisamos construir pontes e estabelecer o diálogo com todos, como fez Jesus ao afirmar que veio para que todos tenham vida e a tenham abundantemente (cf. Jo 10,10).

Seguindo as pegadas de Jesus, Francisco de Assis, 800 anos atrás, compreendeu que o Altíssimo é Deus de todos e quer todos seus filhos e filhas confraternizados, unidos entre si e em comunhão com toda a natureza. Daí porque Francisco chama indistintamente todos e tudo de irmãos: irmão leproso, irmão ladrão, irmão sol, irmão lua, irmã água... Todas as pessoas e todas as criaturas saíram das mãos amorosas de Deus que nos criou por amor e para amar. Por esta razão, não podemos admitir os preconceitos e se os temos devemos vencê-los contemplando o rosto do Filho de Deus que se fez um de nós e veio nos resgatar das trevas para a luz.

Qual o preconceito que atrapalha sua convivência com outras pessoas? Não tenhamos vergonha de admitir que somos preconceituosos. O importante é lutar para construir laços fraternos entre nós e quebrar as cadeias do preconceito que escraviza o coração de tantas pessoas pelo mundo afora.

Frei Marconi Lins, OFM

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